Como a morte
é vista em diferentes religiões e doutrinas?
(Carolina Nascimento)
De maneira geral, cristãos, islâmicos e judeus acreditam que após a morte há a
ressurreição. Já os espíritas crêem na reencarnação: o espírito retorna à vida
material através de um novo corpo humano para continuar o processo de evolução.
Algumas doutrinas acreditam que as pessoas podem renascer no corpo de algum
animal ou vegetal. Em algumas religiões orientais, o conceito de reencarnação
ganha outro sentido: é a continuação de um processo de purificação. Nas
diversas religiões, o homem encara a morte como uma passagem ou viagem de um
mundo para outro.
Filosofia
A sobrevivência do espírito humano à morte do corpo físico e a crença na
vida e no julgamento após a morte já era encontrada na filosofia grega, em
especial em Pitágoras, Platão e Plotino. Já Sartre, filósofo francês, defendia
que o indivíduo tem uma única existência. Para ele, não há vida nem antes do
nascimento e nem depois da morte.
Doutrina niilista.
Sendo a matéria a
única fonte do ser, a morte é considerada o fim de tudo.
Doutrina panteísta
O Espírito, ao
encarnar, é extraído do todo universal. Individualiza-se em cada ser durante a
vida e volta, com a morte, à massa comum.
Dogmatismo Religioso
A alma,
independente da matéria, sobrevive e conserva a individualidade após a morte.
Os que morreram em 'pecado' irão para o fogo eterno; os justos, para o céu,
gozar as delícias do paraíso.
Budismo
O Budismo prega o renascimento ou reencarnação. Após a morte, o espírito volta
em outros corpos, subindo ou descendo na escala dos seres vivos (homens ou
animais), de acordo com a sua própria conduta. O ciclo de mortes e
renascimentos permanece até que o espírito liberte-se do carma (ações que
deixam marcas e que estabelece uma lei de causas e efeitos). A depender do seu
carma, a pessoa pode renascer em seis mundos distintos: reinos celestiais,
reinos humanos, reinos animais, espíritos guerreiros, espíritos insaciáveis e
reinos infernais. Estes determinam a Roda de Samsara, ou seja, o transmigrar
incessante de um mundo a outro, ora feliz e angelical, ora sofrendo terríveis
torturas, brigando e reclamando. Em qualquer um destes estágios as pessoas
estão sujeitas a transformações.
De acordo com o
Livro Tibetano da Morte, existem 49 etapas, ou 49 dias, após a morte. Os monges
oram para que as pessoas atinjam a Terra Pura - lugar de paz, tranqüilidade e
sabedoria iluminada - ou renasçam em níveis superiores. Para libertar-se do
carma e alcançar a iluminação ou o Nirvana, o ciclo ignorância, sede de viver e
o apego às coisas materiais deve ser abolido da mente dos homens. Para isso, a
doutrina budista ensina a evitar o mal, praticar o bem e purificar o
pensamento. O leigo deve praticar três virtudes: fé, moral e benevolência. Para
eles, todo ser humano é iluminado, embora não tenha consciência disso.
Hinduísmo
A visão hindu de vida após a morte é centrada na idéia de reencarnação.
Para os hinduístas, a alma se liga a este mundo por meio de
pensamentos, palavras e atitudes. Quando o corpo morre ocorre a transmigração.
A alma passa para o corpo de outra pessoa ou para um animal, a depender das
nossas ações, pois a toda ação corresponde uma reação - Lei do Carma. Enquanto
não atingimos a libertação final - chama de moksha -, passamos continuamente
por mortes e renascimentos. Este ciclo é denominado Roda de Samsara, da qual só
saímos após atingirmos a Iluminação.
No hinduísmo, a
alma pode habitar 14 níveis planetários distintos (chamadosa Bhuvanas) dentro
da existência material, de acordo com seu nível de consciência. Quando se
liberta, a alma retorna ao verdadeiro lar, um mundo onde inexistem nascimentos
e mortes.
Os hindus possuem crenças distintas, mas todas são baseadas na
idéia de que a vida na Terra é parte de um ciclo eterno de nascimentos, mortes
e renascimentos.
Islamismo (Religião Muçulmana)
Para o islamismo,
Alá (Deus) criou o mundo e trará de volta a vida todos os mortos no último dia.
As pessoas serão julgadas e uma nova vida começará depois da avaliação divina.
Esta vida seria então uma preparação para outra existência, seja no céu ou no
inferno.
Quando a pessoa morre, começa o primeiro dia da eternidade. Ao
morrer, a alma fica aguardando o dia da ressurreição (juízo final) para ser
julgado pelo criador. O inferno está reservado para as almas 'desobedientes',
que foram desviadas por Satanás. No Alcorão, livro sagrado, ele é descrito como
um lugar preto com fogo ardente, onde as pessoas são castigadas
permanentemente. Para o paraíso, vão as almas que obedeceram e seguiram a
mensagem de Alah e as tradições dos profetas (entre eles, os cinco principais:
Noé, Abrão, Moisés, Jesus filho de Maria e Mohammed). No Alcorão, o paraíso é
descrito como um lugar com rios de leite, córregos de mel e outras belezas
jamais vistas pelo homem.
Espiritismo
Defende a continuação da vida após a morte num novo plano espiritual ou pela
reencarnação em outro corpo. Aqueles que praticam o bem, evoluem mais
rapidamente. Os que praticam o mal, recebem novas oportunidades de melhoria
através das inúmeras encarnações. Crêem na eternidade da alma e na existência
de Deus, mas não como criador de pessoas boas ou más. Deus criou os espíritos
simples e ignorantes, sem discernimento do bem e do mal. Quem constrói o céu e
o inferno é o próprio homem.
Pela teoria, todos os seres humanos são espíritos reencarnados na
Terra para evoluir. A morte seria apenas a passagem da alma do mundo físico
para a sua verdadeira vida no mundo espiritual. E mesmo no paraíso, acredita-se
que o espírito esteja em constante evolução para o seu aperfeiçoamento moral.
As almas dos mortos ligam-se umas às outras, em famílias espirituais,
guiadas pela sintonia entre elas. Consequentemente, os lugares onde vivem
possuem níveis vibratórios diferentes, sendo uns mais infelizes e sofredores, e
outros mais felizes e plenos.
Muitas escolas espiritualistas - não todas - defendem a idéia da sobrevivência
da individualidade humana, chamada espírito, ao processo da morte biológica,
mantendo suas faculdades psicológicas intelectuais e morais.
Igreja evangélica
Como no
catolicismo, os evangélicos acreditam no julgamento, na condenação (céu ou inferno)
e na eternidade da alma. A diferença é que o morto faz uma grande viagem e a
ressurreição só acontecerá quando Jesus voltar à Terra, na chamada
'Ressurreição dos Justos', ou, então, aqueles que forem condenados terão uma
nova chance de ressurreição no 'Julgamento Final'. Os que morrerem sem Cristo
como seu Deus também receberão um corpo especial para passar a eternidade no
lago de fogo e enxofre.
Igreja Adventista do Sétimo Dia.
Na Igreja
Adventista do Sétimo Dia, os mortos dormem profundamente até o momento da
ressurreição. Quem cumpriu seu papel na Terra recebe a graça da vida eterna, do
contrário desaparece.
Igreja Batista.
Crêem na morte
física (separação da alma do corpo físico) e na morte espiritual (separação da
pessoa de Deus). Os que, após a morte física, acreditam ou passam a confiar em
Jesus Cristo, vão para o Paraíso onde terão uma vida de paz e felicidade. Com a
morte espiritual, a alma vai para o Inferno para uma vida de angústia,
sofrimento, dor e tormentos.
Catolicismo
A vida depois da morte está inserida na crença de um Céu, de um Inferno e de um
Purgatório. Dependendo de seus atos, a alma se dirige para cada um desses
lugares.
A alma é eterna e única. Não retorna em outros corpos e muito
menos em animais. Crê na imortalidade e na ressurreição e não na reencarnação
da alma. A Bíblia ensina que morreremos só uma vez. E ao morrer, o homem
católico é julgado pelos seus atos em vida. Se ele obtiver o perdão, alcançará
o céu, onde a pessoa viverá em comunhão e participação com todos os outros seres
humanos e, também, com Deus. Se for condenado, vai para o inferno. Algumas
almas ganham uma chance para serem purificadas e vão para o purgatório, que não
é um lugar, e sim uma experiência existencial da pessoa. Quem for para o céu
ressuscitará para viver eternamente. Depois do Juízo Final, justos e pecadores
serão separados para a eternidade. Deus julga os atos de cada pessoa em vida de
acordo com a palavra que revelou através de Seu Filho, com os ideais de amor,
fraternidade, justiça, paz, solidariedade e verdade.
Judaísmo
O judaísmo crê na sobrevivência da alma, mas não oferece um retrato claro da
vida após a morte, e nem mesmo se existe de fato. O judaísmo é uma religião que
permite múltiplas interpretações. Algumas correntes acreditam na reencarnação,
outras na ressurreição dos mortos. Enquanto a reencarnação representa o retorno
da alma para um novo corpo, a ressurreição é definida como o retorno da alma ao
corpo original.
Para os judeus, a lei permite à pessoa que vai morrer pôr a sua
casa em ordem, abençoar a família, enviar mensagem aos que lhe parecem
importantes e fazer as pazes com Deus. A confissão in extremis é considerada
importante elemento na transição para o outro mundo.
Candomblé
Não existe uma concepção de céu ou inferno, nem de punição eterna. As almas que
estão na terra devem apenas cumprir o seu destino, caso contrário vagarão entre
céu e terra até se realizar plenamente como um ser consciente e eterno.
Os cultos afro-brasileiros acreditam que os mistérios da vida e da
morte são regidos por uma Lei Maior, uma força divina que dá o equilíbrio
divino ou eterno. O Candomblé vê o poder de Deus em todas as coisas e,
principalmente, na natureza. Morrer é passar para outra dimensão e permanecer
junto com os outros espíritos, orixás e guias. Trabalha com a força da natureza
existente entre terra (Aìyê) e o céu (Òrun). Nos cultos afros, o assunto de
vida após a morte não é bem definido.
Na Terra, o
objetivo do homem é realizar o seu destino de maneira completa e satisfatória.
Ao cumprir o seu destino na Terra, o ser humano está pronto para a morte. Após
a morte, o espírito será encaminhado ao Òrun, para uma dimensão reservada aos
seres ancestrais, ou seja, eternos. O ser humano pode ser divinizado e
cultuado. Caso o seu destino não seja cumprido, os espíritos ficarão vagando
entre os espaços do céu e da terra, onde podem influenciar negativamente os
mortais. Como não se realizaram plenamente, estes espíritos estão sujeitos à
reencarnação. Já as pessoas vivas que sofrem as suas influências negativas,
precisam passar por rituais de limpeza espiritual para reencontrar o
equilíbrio.
Umbanda
A Umbanda sofre influências de crenças cristãs, espíritas e de cultos afros e
orientais. Como não existe uma unidade ou um 'livro sagrado', alguns
umbandistas admitem o céu e o inferno dos cristãos, enquanto outros falam
apenas em reencarnação e Carma.
Na Umbanda, morte e nascimento são momentos sagrados, que marcam a
passagem de um estado a outro de manifestação espiritual, morremos para um lado
e nascemos para outro lado da vida, o que nos aguarda do outro lado depende de
nós mesmos.
A Umbanda explica o universo através de sete linhas, regidas por
Orixás. Ao morrer, a pessoa será atraída por estes mundos espirituais. A
matéria é apenas um dos caminhos para a evolução do espírito. Sendo assim, a
morte é uma etapa do ciclo evolutivo, sendo a reencarnação a base da evolução.
O objetivo maior do nascimento e da morte é a harmonização e a evolução
consciente do espírito. Após morte, o ser humano leva consigo suas alegrias,
sua fé, suas crenças, suas mágoas e suas dores. E terá que lidar com elas,
sempre contanto com o auxílio dos espíritos mais evoluídos que o recepcionarão
no outro lado da vida e o ajudarão na sua adaptação no mundo espiritual.
Com a morte do corpo físico, os espíritos bons podem se tornar
protetores, enquanto os maus (espíritos de pouca evolução, devido às poucas
encarnações) podem virar perturbadores. Os mortos (desencarnados) podem ser
contatados, ajudados ou afastados.
Acessado em 18/06/2009 no sitio Época.
Link não encontrado no dia 29/12/2009. Todas as modificações posteriores são de
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