Hinduísmo
O hinduísmo moderno estabeleceu um culto centrado nas variadas manifestações de Críxena, especialmente em três delas que se tornaram as mais adoradas na Índia e Bangladesh: Rada Madana Moana; Rada Govinda Deva e Rada Gopinataji - sendo destes Madana Moana a divindade que "encanta todos os Cupidos", ou seja, o próprio deus do amor.[59]
Segundo os seguidores do filósofo Caitanya (século XVI), Críxena é uma manifestação de Vishnu que demonstra que um deus pode ser visto e adorado como um amante - sendo esta relação com o deus a maior expressão que pode alcançar um devoto de sua vertente do hinduísmo.[59]
Na antiga tradição hindu, expressa em vedas como o Bhagavad-gita, o homem deve procurar unir-se à divindade, por caminhos que passam por cada vez mais se libertar das coisas materiais e descobrir as espirituais - dentre elas a prática da caridade; em suma, muitas outras obras propõem os sentimentos passionais, como o impulso sexual, sejam sublimados em sentimentos devocionais.[59]
Para essa religião o amor materno é a forma mais sublime e pura do amor, uma vez que a mãe doa ao seu filho sem dele esperar nada em troca; isto torna esta manifestação deste sentimento superior a todas as demais.[60]
Judaísmo
O amor tem sua obrigatoriedade definida no Levítico, 19:18 - "Tu não deves tomar vingança, nem conservar ira aos filhos de teu povo - mas deves amar ao seu vizinho (como alguém) a si próprio. Eu sou YHWH!" - Maimônides diz ser este um mitzvá[nota 5] pois, como está escrito, "amar seu próximo (como alguém) a si mesmo" impõe a necessidade de cantar seus louvores, e mostrar preocupação com seu bem-estar financeiro, como faria para o seu próprio bem-estar e como faria para sua própria honra - e qualquer um que se aproveita do seu próximo para se elevar não tem participação na vida futura; em contraposição, Nachmânides pondera que, embora seja um mitzvá, a condição de amar ao próximo como a si mesmo é demais para qualquer ser humano, e já o rabino Aquiba ensinava que "sua vida vem antes da vida de seu amigo"; ele remete ao preceito de amar ao estrangeiro como a si mesmo, também previsto no Levítico (19:33-34), relativizando o ensinamento, para desejar ao próximo todo o bem, sucesso e sabedoria.[61]
No Shabat 31-A do Talmude Babilônico é narrada uma história onde um gentio procura Hilel, e lança-lhe o seguinte desafio: resumir toda a Torá durante o tempo em que conseguisse ficar em pé sobre um só pé; o sábio o repeliu, mas em seguida respondeu-lhe: "O que for odioso para ti, não faça ao teu próximo, esta é toda a Torá; o resto é comentário. Vá e estude-a!"[61][62]
Para a guemátria o amor é essencial; a palavra ahavá (amor em hebraico) tem valor numérico 13, que equivale à metade do valor atribuído ao nome divino (26), de onde o rabino Haim Vital concluiu que a combinação do amor de duas pessoas (13 + 13) aumenta a presença divina entre elas - sejam elas cônjuges, amigos, pais, etc.[63]
Budismo
As três vertentes do budismo (teravada, zen e tibetano ) conservam alguns pontos em comum, dentre os quais a visão sobre o amor, como expresso nesta citação do Digha Nikaya: "O ódio nunca poderá acabar com o ódio. O amor pode. Isso é uma lei inalterável".[64]
A meditação é um caminho que leva à estima e amor para com todos os seres; o amor não pode se limitar, contudo, a um mero sentimento e sim tornar-se ação de auxílio e oferenda a deus; a compaixão, no budismo, difere da visão cristã - no sentido de que nesta ele é uma forma de afeto, algo que a doutrina de Buda rejeita, e sim num conceito de puro amor cristão, de humanitarismo e doçura.[65]
Cristianismo
O amor ocupa o centro do pensamento de Santo Agostinho, um dos Pais da Igreja; tal como em sua própria vida, ele divide o amor em dois: o amor sensual, "cupiditas", e o amor transcendental, que evolui do primeiro, que é mundano, para o segundo, pleno e divino; o amor, ainda segundo o padre de Hipona, para se manifestar no ser humano é preciso que este possua paixão, desejo e carência.[66]
Na obra agostiniana vê-se clara influência dos textos paulinos, especialmente da sua Primeira Epístola aos Coríntios; ali, vê-se o amor (caridade) como a base mesma do ser: "Se não tiver amor, eu nada serei".[66]
Protestantismo
As ideias de Calvino, segundo Max Weber, romperam com visões tradicionais da Igreja ao colocar valores como o amor acima da terrível justiça divina; segundo Colin Campbell “Essa revolução na crença preparou o caminho para uma revolução ainda maior, representada pelo Romantismo, que rejeitou ao mesmo tempo as doutrinas literal e histórica do Cristianismo, enquanto reteve uma crença tanto na bondade da humanidade como na espiritualidade que ligava a natureza do homem ao mundo natural”.[67]
Espiritismo
Para a Doutrina Espírita o amor é uma das leis morais da vida, complemento da lei de justiça e imanente à caridade; Allan Kardec escreveu que "amar o próximo é fazer-lhe todo o bem que nos seja possível e que desejáramos nos fosse feito", a explicar a máxima cristã de "amai-vos uns aos outros como irmãos".[68] Num plano mais amplo, considera como amor a força física da união, presente nos seres inanimados mais simples, evoluindo em gradação paulatina da sexualidade até a sublimação das emoções e, finalmente, no amor divino.[69]
Testemunhas de Jeová
Para as Testemunhas de Jeová existe falta de amor no mundo; embora considerem o amor ao próximo algo essencial, ponderam que isto não se restringe a ser bondoso, e mais importante é o amor a Deus, manifesto na obediência aos seus mandamentos: o que se demonstra pelo estudo e aplicação da "Palavra de Deus" e pela reunião junto aos demais, em adoração.[70]
Através da reunião dos fiéis este amor transpõe todas as barreiras - sociais, raciais e nacionais - de modo tão forte que distingue as pessoas como realmente diferentes das demais: uma das razões pelas quais deve o cristão se recusar a pegar em armas, nas guerras.[70]
O mundo apresenta desregramentos e crimes diversos, propagados através de "falsos profetas" - que falam de suas próprias ideias em detrimento da "Palavra de Deus", resultando no aumento do número de divórcios, do sexo extra-matrimônio, aceitação da homossexualidade; seguir tais filosofias aumenta a falta de amor no mundo.[70]
Islamismo e crenças árabes
Para o Islã o amor está ligado ao ódio: não se pode amar a Deus (Alá) ou aos outros, sem com isto não odiar o mal. O amor humano distingue-se do amor divino, e este deve estar inerente à fé do indivíduo - está de tal forma impregnado na doutrina islâmica que constitui elemento essencial para a sua visão do mundo, nos aspectos teológicos, místicos e éticos.[71]
Esta peculiar visão do amor prega que "a fé nada mais é do que o amor pelo amor de Deus, e ódio pelo amor de Deus" e que "foi por amor que Deus criou o mundo".[72]
A compreensão da caridade, ou amor ao próximo necessitado, aproxima o Alcorão do Novo Testamento; nas escrituras do Profeta se lê (76: 8 e 9) que "E eles dão comida ao pobre, ao órfão e ao cativo por amor a Ele. [Eles dizem:] Só os alimentamos pelo amor de Deus. Não desejamos de você nem recompensa, nem gratidão", enquanto em Mateus (25: 31-46) se lê que, no dia do Juízo, Deus perguntará a cada um o que fizeram por Ele, e esclarece que estava em cada um que teve sede, e não deram água; estava doente, e não foram visitá-lo.[71]
O Corão faz mais de oitenta menções ao amor ou seus sinônimos (carinho e afeto)[nota 6]; Dentre os diferentes tipos de amor, há aquele que busca a satisfação dos desejos, que é temporal e carente de valor positivo; há, em contrapartida, o amor que tende à satisfação do espírito e sentimental, tal como o pregado pelo sufismo, e que cabe a um número reduzido de pessoas alcançar; finalmente há o amor ou afeto que tem papel familiar e humano, em que um dos aspectos é a obtenção da felicidade comum entre os indivíduos, as famílias e os grupos, bem como atingir a paz social - sendo portanto um tipo de amor permitido pela religião, pela moral e pelos costumes. Segundo o Imã Shamsuddin Ibnul Qayyem, "Existem vários tipos de amor. O maior e o mais virtuoso deles é o amor em Alá e para Alá. Isto requer amar o que Alá ama, e amar a Alá e ao Seu Mensageiro."[73] Finalmente, para o Islã o amor precisa ser iluminado: a razão precisa estar no domínio pois, se o amor torna a pessoa negligente e parcial sobre o objeto amado, o amante fica "cego e surdo". Por isso que o amor sagrado precisa ser inteligente e perspicaz, o que só a razão permite ocorrer.[71]
Ao contrário da cultura ocidental e cristã, o sexo dentro do relacionamento não é visto como algo pecaminoso - mas sim fruto de uma mais alta manifestação de alegria dos céus; os jogos sexuais (mula‘aba) no casamento são estimulados na obra de Maomé, e o estudioso Abdelwahab Bouhdiba afirma que “o amor muçulmano é um amor sem pecado, um amor sem culpa”.[74] A despeito disto, um hádice atribuído ao Profeta diz que quando um homem e uma mulher se sentam juntos, Satã é o terceiro com eles - com isto o namoro ocidental como etapa de conhecimento mútuo é algo proibido, devendo ser supervisionado - e o amor romântico não é visto como algo inicialmente necessário para o casamento.[75] Desta forma, num casamento, espera-se que o amor venha depois, com o conhecimento entre o casal.[75]
Outras definições religiosas
- Para a Seicho-no-ie, no dizer de seu fundador Masaharu Taniguchi, "Quando a sua vida cotidiana é regida pelo Amor, o homem vivifica a si mesmo e também as pessoas arredor. Isso porque Amor é Vida"; tal sentimento constitui-se na própria natureza divina do homem, um legado que Deus deu ao homem.[76]
- Para a Teosofia a evolução do homem em várias encarnações dá-se com o objetivo de alcançar o estágio no qual possa vir a tornar-se "a expressão do Amor divino aqui na Terra", para tanto vencendo os obstáculos do ego, com perseverança, de modo a atingir um grau no qual "se eleve ao ponto de tornar-se mais do que um homem; inabalável, alegre, radiante, que viva exclusivamente para os outros", na lição do reverendo Charles Webster Leadbeater.[77]
Umbanda, Candomblé e sincretismo afro-brasileiro
Para as religiões de matriz africana no Brasil (Umbanda, Candomblé e outras sincréticas), o amor é um dom que fora dado a Oxum pela divindade criadora de tudo, Olodumare.[78]
No Candomblé cada manifestação da natureza torna-se uma área sob domínio de uma figura dos Orixás, divindades que representam energia mas que, no imaginário social, assume formas humanas e seus gêneros masculino e feminino - de tal forma que Oxum será a deusa das águas doces, dona do amor e da fertilidade, personificada numa mulher de fartos seios, corpo escultural e dócil de caráter.[79]
Para a construção sincrética do culto a Oxum ela é geralmente reverenciada como Nossa Senhora da Candelária; a sua comida típica é o ipetê, servido em ritual próprio do candomblé.[79]
O hino da Umbanda canta que "É o reino de oxalá / Onde há paz e amor (...) Umbanda é paz, é amor / É um mundo cheio de luz".[78]
FONTE: https://pt.wikipedia.org/wiki/Amor
FONTE: https://pt.wikipedia.org/wiki/Amor